Ex-deputado, 56 anos, advogado, cantor amador e motociclista, como se define em seu blog, Roberto Jefferson vê em 2010 a repetição dos vícios na arrecadação eleitoral que marcaram 2002. O caixa dois, uma das fontes de financiamento do mensalão, continua em alta nas campanhas, segundo Jefferson, presidente do PTB. A repressão à doação ilegal, diz, ainda não conseguiu impedir o repasse informal de recursos.
Autor da denúncia do mensalão, esquema de compra de apoio político pelo governo federal, Jefferson não poupa críticas à candidata petista à sucessão presidencial, Dilma Rousseff. Na sexta-feira, o PTB formalizou em convenção nacional apoio a José Serra (PSDB) e indicou Benito Gama a vice na chapa. Ressentido com o PT e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jefferson acredita que o tucano terá menos dificuldade que Dilma na relação com o Legislativo e analisa que o PMDB não fará "oposição raivosa" a Serra.
O presidente do PTB aposta no crescimento da bancada na Câmara, dos 22 deputados para 30 ou 35. No Senado, espera emplacar Romeu Tuma (SP), Armando Monteiro (PE) e Luiz Francisco Corrêa Barbosa (RS). Nos Estados, acredita na vitória do ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello em Alagoas, Lucas Barreto no Amapá e João Vicente Claudino no Piauí.
Jefferson pretende concorrer a um cargo em 2018. Seus direitos políticos foram cassados até 2016.
Na convenção nacional do partido, entre fotos, apertos de mão e gargarejos para melhorar a voz, o presidente do PTB falou com o Valor, em São Paulo.
Valor: O senhor vê alguma alteração no sistema de arrecadação de recursos e no uso do caixa dois desde 2002?
Roberto Jefferson: Não vou dizer que caixa dois seja corrupção. A Justiça está querendo expor tanto as vísceras dos doadores, como se fossem bandidos, que ninguém quer doar por dentro. Empresário tem medo, tem pânico de doar para quem é contra o PT. Porque vai lá a Polícia Federal, vai lá Receita Federal, o Ministério do Trabalho, o Ministério da Previdência. E quem é que resiste a isso? Quem de nós não tem pecado? Quem do empresariado nacional não tem um probleminha trabalhista, ou um probleminha fiscal, quem não sonega alguma coisa? Agora até a Receita vai ouvir segredos de pessoas... Tem que proteger o doador, não eviscerar. Se eviscerar, transformar o doador num possível corruptor, vai continuar essa bagunça.
Valor: Não houve mudança no uso do caixa dois pelos candidatos?
Jefferson: É uma especulação, mas que vai existir, vai existir. Os empresários têm medo de doar. O governador autoritário mete lá a fiscalização do ICMS contra o empresário. É o que está havendo. As ameaças estão claras contra os empresários. Eles têm medo de doar e de ficar expostos a essa violência. Há doações "por dentro" - alguns têm coragem de fazer isso. Mas não podem escolher o lado. Têm de dar para os dois (candidatos). É uma maneira de equilibrar.
Valor: E a doação por fora?
Jefferson: Estou afastado das eleições, não vou receber financiamentos. Por ouvir dizer... Por ouvir dizer que está havendo também [doações por fora]. Não sei a quantidade.
Valor: O mensalão, financiado em parte pelo caixa dois, foi um esquema de compra de apoio político no Legislativo. Como deve ser a relação do próximo presidente com o Congresso? Que dificuldades persistem?
Jefferson: Serra vai ter uma relação digna. O PT joga na ilegalidade, quer qualquer apoio, a qualquer preço e de qualquer maneira. A Dilma não terá o apoio que Lula tem do povo. O PT vai corromper mais o Congresso para ter apoio, porque ela (Dilma) é frágil. Dilma não tem paciência para conversar política, ela não conhece o problema político. Vai perder rápido a base parlamentar e o povo e aí vai recorrer à polícia. Quem não tem povo se apoia na polícia.
Valor: Serra disputa a Presidência com um leque de alianças semelhante ao que o Lula teve em 2002, com partidos como o PTB ao lado, mas sem o PMDB e sem maioria no Legislativo. Se vencer, como enfrentará o Congresso?
Jefferson: A posição de Serra é muito mais democrática. Ele permeia bem o PMDB. Lula tinha uma postura ideológica muito agressiva, de esquerda, que hoje está sendo praticada na coxia, no pé da escada. Era um discurso pesado, raivoso do PT naquela época, que afastava os partidos mais moderados como o PMDB, o DEM e o próprio PTB. O Serra não tem esse discurso raivoso. Ele não se entrega assim de maneira tão desabrida, tão apaixonada pelo poder, pelo poder de qualquer maneira. Vai ter facilidade de governar porque o PMDB não fará oposição a ele.
Valor: Mesmo o PMDB tendo a participação que tem hoje no governo Lula e indicando o vice de Dilma?
Jefferson: Vai ser construído um novo governo. Esse quadro é um quadro de eleição. O PMDB não é um partido ideológico que possa fazer uma oposição raivosa ao governo de Serra. Não existe isso.
Valor: Se vencer, Serra pode ficar mais dependente do PMDB no Congresso do que Dilma, já que o partido não está na chapa, como foi no primeiro mandato de Lula?
Jefferson: Não. Como o partido terá perdido a eleição, vai ter um pouco de pudor. É como viuvez. A viúva pode até casar de novo, mas tem uma fase de viuvez, o luto. Vai passar o luto, vai dar apoio à governabilidade. A conversa avançará pelo segundo ano de governo.
Valor: É possível a reedição de um esquema como o mensalão?
Jefferson: Não existe mais isso, como era, toma-lá-dá-cá, toma " trintão " por mês, vem votar comigo. Acabou. No Congresso não há mais isso.
Valor: Como deve ser a relação do PTB com Serra? O que foi negociado?
Jefferson: O compromisso que temos de tirar com Serra é uma mudança na legislação da medida provisória. O Congresso está virando um valhacouto de vagabundos porque a instituição está de joelhos. O Congresso não legisla mais. Ou ele (o presidente) homologa medida provisória ou toma decisão na Justiça como se lei fosse. Se você não cumpre o papel institucional que tem, teu espaço é preenchido. E Serra, como passou pelo Congresso, vai saber respeitá-lo e mudar o primeiro problema que leva à corrupção, que é a medida provisória. A sociedade não é chamada a pensar um projeto. Ela já o encontra como lei provisória publicada no Diário Oficial. E os deputados então correm para tentar aproveitar um pouquinho, para enxertar suas coisas. Você não é mais dono do projeto, você vai tentar morder uma beirada dele. Se permanecer será uma vergonha.
Valor: Se Dilma vencer, como ficará o PTB?
Jefferson: O PTB vai à oposição. O projeto político (dela) vai nos levar ao cerceamento da liberdade democrática. Olha os alinhamentos internacionais do país, com bandido, protetor de traficante, produtor de cocaína, com homem que humilha a mulher, com homem como Ahmadinejad (presidente do Irã). E o governo do Brasil diz que esses caras são bons? Vamos enfrentar isso."
Fonte: PTB.org
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